sábado, 15 de julho de 2017

TROPA DE ELITE 2 - O INIMIGO AGORA É OUTRO



Antes de assistirmos uma sequência de um filme que fez tanto sucesso por causa do seu choque com o mundo real, sem dúvida nos proporciona grandes expectativas. Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro causa maior impacto com a realidade do que o primeiro filme. Isso por que seu contexto gira em torno da política, e como sabemos, o Brasil está até hoje mergulhado em uma política quase que 100% corrupta. Os interesses públicos são deixados de lado para obter mais poder e influência. Um grande conflito se segue com pessoas honestas e que percebem furos no poder político que governa a cidade, o estado ou o país inteiro.

O filme novamente é dirigido por José Padilha e foi lançado em 2010, e novamente com Wagner Moura no papel principal. No filme anterior, Nascimento (Wagner) sonhava com a sua aposentadoria ao colocar um substituto à sua altura no posto de capitão do BOPE. E ele conseguiu, porém sua carreira na polícia não acaba por aí. Nesse segundo filme, 10 anos depois, ele ocupa o cargo de coronel, e lutava com tudo que tinha para combater a corrupção. Conforme todos nós sabemos, ele é o tipo de policial que não há mancha suja, pois sempre quer agir para o melhor de todos, nem que para isso tenha que matar bandidos. 


Pois bem, Tropa de Elite 2 já começa furioso, mostrando uma rebelião no presídio Bangu I. E essa rebelião era liderada por Beirada (Seu Jorge), este junto com sua gangue mata todos os seus rivais dentro do presídio. E nisso, O BOPE agora liderado por André Matias (André Ramiro), tenta fazer um cerco ao redor das celas, sendo então comandado pelo coronel Nascimento, que assiste tudo através de câmeras. Em meio a essa situação, um professor de história chamado Diogo Fraga (Irandhir Santos), é acionado para conter a situação e acalmar Beirada, pois este confiava em Fraga, já que ele fazia parte de uma ONG dedicada à defesa dos direitos humanos.

Assim como o filme anterior, aqui está repleto de situações do cotidiano e que batem com a realidade. De modo simples e direto, o filme é um verdadeiro “tapa na cara”. Após a operação ter dado errado no presídio Bangu I, Matias é expulso do BOPE, mas o coronel Nascimento acaba sendo promovido a subsecretário de inteligência, pois foi visto como herói pela população, por ter ordenado a morte de um dos piores bandidos do Rio de Janeiro, embora ele não tenha feito isso, pois foi decisão de Matias invadir o local a matar o bandido. O desenvolvimento a partir daí é uma verdadeira avalanche contra o tráfico de drogas, já que Nascimento não suporta a bandidagem, ele aproveitou de todo o poder e autoridade que lhe fora concedido, para massacrar, no pleno sentido da palavra os traficantes da cidade, assim eles não poderiam pagar os policiais corruptos, e dessa forma ele ia, segundo o próprio diz, foder o sistema.


Quem diria que alguém tão honesto como policial, iria trabalhar ao lado dos poderosos. Mas é aí que o filme desmorona no sentido de que todo o plano do coronel Nascimento em acabar com o crime, ia por água abaixo, pois o buraco onde ele achava que era o coração do sistema, era na verdade muito mais embaixo, e com uma tática dos corruptos, nasceu aquilo que é conhecido como milícia. Que é basicamente uma designação genérica das organizações militares, compostas por cidadãos comuns ou policiais armados, que exploram as favelas em troca de proteção, caso não haja cooperação por parte dos moradores, o resultado todos já sabem: a morte. Ou seja, a milícia é paga para proteger os cidadãos dela mesma, segundo a definição dada por Diogo Fraga que agora é marido de Rosane (Maria Ribeiro) ex mulher de Nascimento. Fraga se elege a deputado estadual, e por sua influência, Rosane e o filho Rafael se distanciam cada vez mais de Nascimento.

A estrutura principal do filme já se manifesta por meio de campanhas políticas. Isso chega a causar chacina entre as pessoas que não forem a favor dos políticos que anseiam uma reeleição, como no caso do governador do estado do Rio de Janeiro. Porém, a milícia pretende dominar uma área ampla, pois eles estavam do lado do governador e de alguns deputados, que os pagavam para fazer mídia e induzir a população onde eles tinham influência a votar nesses caras. Com uma corrupção além dos limites, que apenas o deputado Fraga percebeu em seu meio. 


É muitíssimo claro o paralelo do filme com a realidade do país. Os políticos não estão nem aí para as pessoas, só pensam em poder e benefício próprio, ao invés de ajudar milhares de famílias que necessitam de cuidados especiais, e eles tem o poder para isso. Como foi dito antes, o filme é um tapa na cara do Brasil, mostrando em que situação o país está atolado, sem andar pra frente.

O realismo também predomina em Tropa de Elite 2, cenas de ação e operação policial muito bem feitos, além das atuações que não deixaram a desejar. Vale destacar a participação do ator André Mattos, que interpretou o deputado corrupto, Fortunato, que também tinha um programa na tv, onde ele apresentava de uma forma cômica. É justamente na política que o coronel Nascimento percebe quem é seu verdadeiro inimigo, e o que era aquele policial determinado do primeiro filme, onde acreditava que seu trabalho beneficiava a população, na verdade toda a polícia estava envolvida em politicagem, e que apenas Matias, que fora assassinado covardemente pela milícia e o deputado Fraga que investigou toda a situação com a ajuda de uma jornalista, assim toda a dedicação de Nascimento dentro da polícia ia por água abaixo após descobrir os podres que é a política desse país.


É interessante a frase de Nascimento em um determinado momento do filme: “É na hora da morte que a gente entende a vida.” Essa frase é uma reflexão total, após tudo o que se faz na vida e não percebemos que muitos dos nossos esforços, mesmo sem querer, acabam por cooperar com a corrupção e a ladroagem. Sim caro leitor, Tropa de Elite 2 é um banho de água quente para a sociedade brasileira, embora seja doloroso ver a situação retratada no filme, conseguimos aprender lições que talvez possa ajudar consertar o futuro.

José Padilha foi impecável nas duas produções! Com seu jeito único de conduzir as cenas de forma natural, em especial as cenas de ação dentro das favelas da capital carioca, bem como o voo sobre os prédios administrativos de Brasília, onde notamos que a história do filme é tão fiel à realidade que mesmo com todo o esforço de Nascimento em desmascarar a corrupção, simplesmente não acaba, e por isso há a famosa fala do protagonista que resume de modo geral a ficção e a realidade:
"O sistema é muito maior do que eu pensava. Não é a toa que os traficantes, os policiais e os milicianos matam pessoas em favelas. Não é a toa que existem favelas. Não é a toa que acontece tanto escândalo em Brasília que entra governo, sai governo e a corrupção continua. Para mudar as coisas, vai demorar muito tempo. O sistema é foda, ainda vai morrer muito inocente." (Coronel Roberto Nascimento)
Portanto, não adianta reclamar do cinema brasileiro. Os dois filmes Tropa de Elite supera e muito as grandes produções de Hollywood. Pois é uma história conduzida com perfeição e um verdadeiro reflexo de uma realidade nua e crua, além de ser um grande filme com cenas de ação super bem produzidas, e querendo ou não esses filmes ganharam espaço no universo cinematográfico. 


NOTA: 10/10

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Veja o trailer no vídeo abaixo: 

 

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